Foi-se o tempo em que ansiedade e depressão eram doenças de gente grande.
De acordo com estudo publicado na revista médica JAMA Pediatrics, o número de crianças diagnosticadas com ansiedade cresceu 29% entre 2016 e 2020 – e os casos de depressão aumentaram 27%.
Aliado ao fato de que a quantidade de crianças que praticam exercícios físicos diariamente diminuiu 18% no mesmo período, o que podemos observar é que quase todas as crianças podem se beneficiar – e muito – de um acompanhamento psicológico.
Você deve estar se perguntando: como saber se meu filho precisa de um psicólogo infantil?
Há muitos fatores que devem ser considerados.
A pandemia da Covid-19, por exemplo, acelerou ainda mais esse crescimento de indicadores relacionados à depressão e ansiedade.
A privação do convívio escolar com amiguinhos e com parentes certamente contribuiu para que as crianças se tornassem mais ansiosas e até sedentárias.
Ainda por cima, os pequenos viam, nos pais, um reflexo dessa ansiedade, uma vez que, por algum tempo, as incertezas quanto a um futuro pós-pandemia se alastraram na mídia.
Durante a pandemia, inclusive, a pesquisa observou 21% no número de crianças com problemas de comportamento ou conduta.
O acompanhamento psicológico sempre foi importante.
Agora, se torna ainda mais necessário, na medida em que a vida voltou ao normal, mas os reflexos da pandemia ainda são sentidos.
Então, vamos lá.
O que você vai ver nesse artigo:
Como saber se meu filho precisa de um psicólogo infantil?
Antes de mais nada, é preciso ficar atento ao comportamento do pequeno.
Algumas crianças, naturalmente, são mais quietinhas que as outras – preferem brincar sozinhas e se divertem com a própria imaginação.
Outras gostam de ser o centro das atenções e ter os holofotes virados para elas.
A única forma de saber se o comportamento do seu filho está um pouco diferente é prestando atenção.
Mudanças de rotina – como uma troca de escola ou de apartamento, por exemplo – ou mudanças permanentes na vida da criança – um divórcio ou a chegada de um irmão mais novo – costumam impactar significativamente o comportamento dos pequenos.
Alguns ficam mais retraídos. Outros passam a demandar ainda mais atenção.
Tornam-se birrentos, chegando a deixar os pais um pouco irritados.
Então, o que mais importa, nesse momento, é identificar mudanças de comportamento – ou comportamentos nocivos em excesso.
Por exemplo, se a criança sempre foi quietinha, mas está cada vez mais introspectiva, com dificuldade de fazer amizades, pode ser uma boa levá-la a um psicológico infantil.
O mesmo vale para crianças extrovertidas que, ao chegar à idade escolar, não conseguem prestar atenção nas aulas, fazem muita bagunça e acabam se metendo em confusões com os colegas.
Veja, abaixo, alguns sinais específicos que apontam a necessidade de um acompanhamento psicológico.
6 sinais de que seu filho precisa de um psicólogo infantil
1. Meu filho mudou repentinamente de comportamento
Se a criança, que sempre apresentou uma forma constante de se comportar, mudar repentinamente, é hora de acender o alerta.
Algumas alterações, como fazer xixi na cama, recusar-se a dormir sozinho quando já tinha esse costume, comer muito ou parar de comer, parar de render na escola ou mostrar dificuldades de aprendizado, são dignas de atenção dos pais.
Ah, e no caso da aprendizagem, a escola será uma aliada importante – provavelmente, os professores vão perceber esse tipo de mudança antes dos pais.
Busque participar da vida escolar do seu filho e estar em contato com os professores e coordenadores pedagógicos.
Crianças muito tímidas que se tornam ainda mais reclusas, demonstrando uma dificuldade crescente de expor pensamentos ou de interagir com os coleguinhas, também podem estar mascarando algum sentimento oculto.
2. Meu filho está muito agitado, inquieto ou com dificuldades de prestar atenção
Se você notar esse comportamento no seu pequeno, a ponto de atrapalhar as atividades ou causar estresses no colégio ou em casa, é hora de levá-lo a um psicólogo.
Isso porque, por engano, a criança pode acabar sendo diagnosticada com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), por exemplo.
Enquanto ela pode só estar tendo comportamentos normais da infância, que nem sempre são resolvidos com medicação.
Por isso, a terapia acaba ajudando a criança a lidar com essa inquietude e, de quebra, pode ensinar a família a lidar com uma criança mais agitada.
3. Meu filho está agressivo
Se a criança passar a agir de forma agressiva com muita frequência, pode ser um sinal de desconforto – algo que a criança não está conseguindo colocar para fora de outra maneira.
Procure conversar com a criança e tentar entender os motivos pelos quais ela está agindo dessa forma.
Se nada resolver, esse pode ser um dos sinais que seu filho precisa ir ao psicólogo infantil.
4. Meu filho parece estar regredindo
Você certamente já conhece as fases de desenvolvimento da criança.
É esperado que a criança vá evoluindo, conforme a fase do desenvolvimento.
Então, se você perceber que a criança está apresentando comportamentos que já haviam sido superados – fazer xixi na cama ou não querer dormir sozinho, por exemplo -, pode ser sinal de insegurança.
É algo bem comum quando há a chegada de um irmãozinho (a) mais novo.
5. Meu filho está com problemas na escola
Nessa parte, o olhar dos professores e tutores das escolas é fundamental.
Se a criança vai bem no colégio e, de repente, passa a tirar notas baixas e a demonstrar desinteresse no aprendizado, é um sinal de que algo está errado.
E não precisa significar necessariamente algo ruim – crianças com altas habilidades, por exemplo, costumam ficar entediadas rapidamente em sala de aula.
De qualquer modo, vale investigar.
6. Meu filho está com autoestima baixa
Se a criança começa a duvidar da própria capacidade ou se criticar com frequência, demonstrando insatisfação com a aparência ou com as habilidades, vale buscar o auxílio de um psicológico infantil.
Essas inseguranças podem estar mascarando problemas mais profundos.
E, de quebra, é algo que costuma aumentar conforme a criança cresce e se torna adolescente, época naturalmente mais atribulada para os pequenos, com muitas inseguranças que podem causar ansiedade.
Como funciona o trabalho de um psicólogo infantil?
Se você, na vida adulta, já buscou a ajuda de um psicólogo e teme que a criança vá se sentir intimidada ou até entediada ao ficar basicamente conversando com uma pessoa desconhecida, pode ficar tranquilo.
A forma de atuação do psicológico infantil é bem diferente – embora, no fundo, a essência seja a mesma.
O psicólogo infantil trabalha a partir do lúdico.
A criança brinca – com ou sem intervenção do terapeuta.
Assim, as questões são abordadas de forma indireta e a criança se expressa por meio das brincadeiras.
É interessante, caso o pai ou a mãe não façam terapia, que também embarquem nessa jornada de autoconhecimento.
Assim, o psicólogo também pode entender a dinâmica familiar e os comportamentos considerados normais para a criança.
Com o histórico familiar já assimilado, um plano de ação com metas e atividades propostas é desenvolvido e compartilhado com os pais.
A terapia começa com a construção de confiança durante a interação interpessoal.
Dependendo da faixa etária, o psicólogo pode escolher algumas intervenções comprovadamente eficazes, como a psicoterapia lúdica (a partir de 3 anos) ou arteterapia e terapia cognitivo-comportamental – para crianças mais velhas e adolescentes.
O psicólogo pode ajudar o paciente a descrever os diálogos internos e a explorar o que é real.
13 benefícios da terapia para o seu filho
A psicoterapia é uma ferramenta extremamente benéfica para todo mundo, independentemente de idade, gênero ou classe social.
Afinal, quem não precisa de ajuda para se conhecer melhor, para entender os próprios pensamentos e, em alguns casos, lidar com anseios e medos?
A prática traz melhorias para todas as áreas da vida – e, claro, pode ter um foco específico, dependendo de cada caso.
Conheça alguns benefícios da psicoterapia para crianças e adolescentes:
- Aumenta a produtividade
- Melhora o desempenho escolar
- Promove o autoconhecimento
- Desenvolve os relacionamentos pessoais
- Ameniza sintomas de distúrbios e doenças
- Recupera a autoestima e a confiança
- Ajuda a aliviar os traumas do passado
- Ameniza sintomas de distúrbios e doenças
- Ajuda a reconhecer habilidades
- Estimula o encontro da motivação
- Melhora os níveis de energia
- Ajuda a superar barreiras diversas
- Promove a melhora de comportamentos e hábitos
Dica extra: como falar sobre psicoterapia com meu filho?
Felizmente, a percepção antiga de que psicoterapia é coisa de louco já saiu de moda.
Hoje, os benefícios da prática são amplamente reconhecidos – e quem começa a fazer terapia dificilmente se arrepende.
Ainda assim, pode ser difícil falar sobre emoções com os filhos e explicar para eles que aquilo que estão sentindo tem causa e solução.
Uma forma lúdica de explicar as doenças mentais às crianças é trazer os amiguinhos do desenho Ursinho Pooh.
Com características marcantes e específicas, cada um dos personagens do desenho pode ser associado a uma doença mental.
Vale lembrar que não se sabe se a intenção do escritor britânico Alan Alexander Milne, autor dos livrinhos, foi essa.
Ainda assim, pesquisadores da Universidade de Ave, no Canadá, encontraram indícios suficientes nos episódios analisados para sustentar essa tese.
Comilão ao extremo e bastante distraído, o ursinho Pooh representa a compulsão alimentar e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Já o Bisonho, sempre cabisbaixo e desesperançoso, está associado à depressão profunda.
Abel, o coelho que precisa manter tudo organizado, ao ponto de se tornar um pouco rabugento, representa o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).
É comum que as crianças não saibam expressar exatamente o que estão sentindo.
Assim, apresentá-las ao desenho pode ser uma forma lúdica de fazer com que elas se identifiquem com algum personagem.
Se a criança se identificar com o Bisonho, por exemplo, é uma pista de que os sentimentos que a abalam estão relacionados à tristeza e à desesperança.
Livre-se do tabu
Se o seu pequeno está com dor de barriga ou resfriado, é natural que você busque um médico para auxiliá-lo a melhorar, certo?
Com as doenças da mente, o cuidado deve ser o mesmo – e até maior, dependendo dos sintomas.
Buscar ajuda de um psicólogo infantil não significa que você falhou como pai/mãe – e muito menos que a criança está “louca” ou “maluca”.
Esse, inclusive, é um preconceito que, felizmente, está encontrando menos eco na sociedade, já ciente dos benefícios da psicoterapia.
Se identificou? Encontrou a resposta para a pergunta inicial: como saber se meu filho precisa de um psicólogo infantil?
Conte para a gente a sua experiência familiar nos comentários.