Vamos discutir sobre um assunto que se tornou uma preocupação recente na relação entre pais e filhos? São os perigos da internet para crianças.
Segundo pesquisa do Kaspersky Lab, apenas 37% dos pais se preocupam com os riscos que os filhos correm na Internet.
Outro dado alarmante, segundo à Organização das Nações Unidas (ONU) e da Fundação Telefônica, indica que 43% das crianças e jovens do Brasil já foram vítimas de cyberbullying.
Ficou preocupado(a)?
A boa notícia é que, ao adquirir informação sobre o assunto e transmiti-las de forma adequada aos pequenos, já é uma grande atitude para a prevenção.
Por isso, descubra agora os 5 principais perigos da internet para crianças e o que você pode fazer para evitar que seu filho entre em contato com eles.
1) Abuso sexual via internet e grooming
Abusos sexuais não ocorrem somente na interação física e próxima entre duas pessoas.
Uma criança pode ser assediada e abusada sexualmente através da internet, por meio de diálogo com o agressor e troca de conteúdos como vídeos e fotos.
O abuso sexual facilitado por tecnologia pode começar de maneira aparentemente inofensiva, como uma amizade entre duas crianças, mas que, na verdade, trata-se do plano de ação de um agressor, que se coloca no papel de criança para interagir com as demais.
Os agressores escolhem ambientes virtuais com foco nas crianças – como sites infanto-juvenis, jogos virtuais e grupos de redes sociais e adotam perfis falsos bem elaborados para conseguir interagir sem levantar suspeitas.
Alguns agressores são tão eficientes que sabem reproduzir o discurso, as ideias, as gírias e até a grafia de uma criança ou adolescente.
Ao se intensificar a relação, podem começar a surgir os papos “estranhos”, os pedidos de foto e também o envio de fotos (que podem ser imagens inapropriadas de outras crianças, expondo seu filho à pornografia infantil sem que ele saiba).
Em um patamar ainda mais profundo, a relação se intensifica de forma que o agressor consegue convencer a criança a se expor, e a partir daí o caso de assédio pode evoluir para o Grooming.
Essa modalidade de abuso envolve estratégias para obter conteúdo impróprio e chantagear a criança/adolescente.
Nesse caso, começam a surgir ameaças como:
“Se você não fizer o que eu estou pedindo, vou enviar suas fotos para seus pais e amigos.”
Ou
“Se você parar de enviar fotos eu vou mostrar tudo no Facebook”.
2) Sexting e chantagens envolvendo conteúdo inapropriado
Quando as chantagens e abusos são praticadas por adultos, acontece o Grooming, contudo, o termo não se aplica para situações nos quais os chantageadores são pessoas da mesma faixa etária.
Se engana quem pensa que o abuso sexual e a exposição indevida ocorrem somente com estranhos ou é estimulada apenas por adultos.
Mesmo que você controle a internet dos seus filhos, problemas podem surgir nos relacionamentos com os colegas e outras crianças da mesma idade.
A relação (que pode ser verdadeira ou forjada apenas para obter material indevido com foco em ridicularizar e chantagear o colega) começa como amizade, evolui para uma espécie de envolvimento amoroso.
Até que começam a surgir os perigos da internet para crianças como a troca de imagens de conotação sexual (os famosos “nudes”) e o hábito de enviá-las em mensagens, hábito conhecido como “sexting”.
Com material indevido em mãos, a outra criança pode chantagear ou expor o colega, gerando um grande constrangimento.
3) Exposição a conteúdos de conotação sexual
Nem todo conteúdo erótico da internet é ilegal ou envolve menores de idade, na verdade, a grande maioria dos sites eróticos disponíveis para acesso na web trazem conteúdos dentro da lei, mas que estão bem longe do tipo de material que seu filho deve ter contato.
O acesso aos conteúdos pornográficos é muito simples, e a internet está cheio deles. Em sites de conteúdo erótico, uma criança pode se deparar com fotos e vídeos chocantes, que alteram sua percepção sobre o que é o sexo, a sexualidade, a relação de afetividade no momento do sexo, etc.
O grande problema dos conteúdos eróticos é que muitos deles envolvem fantasias sexuais com filmes, séries, jogos e desenhos. Isso significa que até uma busca inocente sobre o desenho animado favorito pode oferecer riscos aos pequenos.
4) Cyberbulling
Aquilo que conhecemos há anos como “zoeira na escola” ganhou definição e se tornou assunto sério.
Felizmente, as escolas, as famílias e as próprias crianças estão ficando cada vez mais sensíveis ao bullying e seus efeitos negativos.
Mas, apesar da melhora, ainda se ouve falar de práticas de bullying pelo mundo, e há muitos pais que não lidam com este assunto com a maturidade e a seriedade que ele exige.
Na internet, o bullying ganha o nome de cyberbullying e se torna tão nocivo ou até mais prejudicial do que sua versão tradicional.
Com o crescimento do uso de redes sociais, as crianças têm um espaço digital para interação, que pode ser explorado para o bem das relações, ou para intensificar brigas e agressões.
Crianças e adolescentes não têm conhecimento total sobre o impacto de suas ações na vida dos outros, por isso, o bullying virtual é tão nocivo.
As imagens, textos e vídeos viajam instantaneamente para todos os lugares, com isso, aquilo que poderia ser uma “brincadeirinha com o colega” se torna um vídeo viral, expondo o pequeno a uma situação desconfortável.
5) Compartilhamento de informações privadas
Durante interações com outras pessoas na internet, as crianças não estão sujeitas apenas à ameaças de fundo sexual ou difamatório, há também criminosos que não visam as crianças, e sim os pais ou a família como um todo.
O problema é que esses criminosos costumam utilizar os pequenos como fonte de informações.
Crianças não entendem muito bem toda a malícia do mundo em que vivemos, com isso, algumas informações simples como “eu moro no prédio cinza no fim da Rua XV de Novembro” podem parecer apenas uma conversa casual com outro colega, contudo, por trás daquela persona virtual pode estar alguém muito interessado em informações.
Conforme estreitam relação com as crianças, os criminosos conseguem uma ficha completa com a rotina dos pais, horários da casa vazia, endereços de trabalho e até números de cartão de crédito. Isso é um prato cheio para assaltos, sequestros e extorsões telefônicas.
Perigos da internet para crianças: como evitar?
Para proteger os filhos dos riscos da internet, os pais precisam focar na informação e no diálogo, além de algumas atitudes práticas.
Veja uma lista com algumas sugestões:
1) Converse com as crianças
Não é preciso gerar um clima de terror e fazer com que elas acreditem que a internet está cheia de gente má, contudo, não fuja do alerta.
Com muita calma e um discurso alinhado com a idade da criança,explique sobre como a internet é um lugar legal, mas cheio de pessoas desconhecidas.
Tente fazer uma analogia entre a famosa regra de “não falar com estranhos nas ruas e lugares” e a necessidade de manter o mesmo comportamento na internet.
Fale para ela sempre duvidar de pessoas que pedem informações muito importantes, como nome, onde mora, etc.
2) Oriente-os sobre o comportamento dos amigos
Muitas crianças com acesso à internet não vão receber orientações envolvendo as más práticas do meio digital em casa.
Isso ocorre porque nem todos os pais têm real noção do perigo, geralmente os com mais idade ou os que não têm o hábito de usar a internet.
Comente sobre a necessidade de respeito e de ser respeitado, tanto na vida real quanto na rede social ou nos joguinhos eletrônicos.
Por fim, explique que bullying é errado, inclusive na web, e que ele não deve participar desse tipo de atitude e, caso seja o alvo, deve se sentir à vontade para falar com você.
Já em relação ao sexting, explique que uma vez enviado, o conteúdo fica livre, podendo ser replicado em milhares de sites e dispositivos.
Explique sobre como a privacidade é necessária e deixe claro que isso se trata de um problema muito sério, que geraria até processo criminal caso ele fosse um adulto.
Sim, é preciso passar um pouco de seriedade neste ponto, afinal, estamos falando da exposição indevida da imagem de menores de idade.
3) Converse com a escola
A escola tem o dever de ficar antenada no contexto social de seus alunos, portanto, se não há nenhum tipo de iniciativa alertando sobre os perigos da internet para crianças e do bullying, talvez tenha chegado a hora de cobrar uma posição.
4) Fique de olho no histórico de acessos da internet
Muitas informações deixam rastro na internet, e o histórico de navegação é um ótimo lugar para você vasculhar um pouco sobre o comportamento do seu filho na internet.
Mesmo que ele apague, há forma de recuperar os dados de acesso e analisar quais sites estão sendo acessados.
Aproveite seu momento “detetive” para verificar a aba de senhas salvas. Navegadores como o Google Chrome e o Mozilla Firefox têm em suas opções uma lista com todos os logins de acesso e senhas que estão salvos para login automático.
Ao analisar essa lista, você pode verificar quais sites/fóruns/jogos com acesso restrito seu filho está frequentando.
5) Utilize filtros de controle de atividade
Celulares, navegadores oferecem alguns controles de acesso a conteúdos, assim como acontecem em plataformas como o Youtube e Netflix.
Veja também: Criança no Celular: Tempo limite e perigos do uso excessivo
Esses filtros permitem que os pais tenham uma forma de controlar a internet dos filhos, através do monitoramento do tipo de informação que está sendo consumida e análise do tempo que as crianças ficam conectadas.
Apesar de funcionais esses filtros não são infalíveis, por isso, é recomendado procurar outros recursos. Existem alguns softwares bem completos que podem ser adquiridos para auxiliar nesse controle.
O Google Family Link, o AppBlok e o Controle Parental Screen Time limitam o tempo de uso e monitoram as ações dos filhos bloqueando recursos e gerando relatórios que informam as ações realizadas nos celulares.
Além da proteção contra buscas e conteúdo inadequado à idade, os pais podem acompanhar a localização em tempo real de seus filhos e receber um alerta caso algum incidente aconteça, como o Life360 e o GPS Rastreador de Família KidsControl.
Meu filho fez besteira na internet, e agora?
Bom, os caminhos são distintos, dependendo se ele foi a vítima ou o agressor.
Se ele foi a vítima, tenha muito cuidado, dê suporte, apoie e entenda que não é hora para repreensão pelo ocorrido.
Isso, na maioria das vezes, é fruto de inocência, e ninguém tem culpa por não enxergar a malícia nos outros.
Cada caso vai exigir um tipo de cuidado, em situações de ampla exposição e constrangimento, vale a pena procurar uma ajuda psicológica imediata, cercar seu filho de carinho e cuidar muito bem de sua saúde mental e estado de espírito.
Casos de exposição indevida e cyberbullying podem trazer consequências psicossociais inesquecíveis para a vítima, por isso, é fundamental que eles possam contar com o apoio incondicional dos pais nesse momento.
Contudo, se o seu filho foi o agressor, o papo deve ser outro.
Primeiro aponte para ele que a vida de seus colegas é algo valioso e que deve ser respeitado.
Não fuja do enfrentamento sobre a responsabilidade e reforce que certas práticas podem ser consideradas crimes virtuais, o que é muito grave, além, é claro, do impacto negativo na vida da vítima.
E vale dizer que em ambas as situações, seja seu filho como vítima ou agressor, acessar a escola e a rede de relações dele pode facilitar o processo de reparação e superação através do acolhimento e estratégias educativas.
Cuidado com o que o seu filho vê/faz na internet
A internet é um local excelente para aprendizado, porém é preciso que os pais exerçam um pouco de controle e auxiliem seus filhos à utilizá-la de maneira segura e respeitosa.
Lembre-se sempre de ficar atento ao sinais do dia a dia e estimule um diálogo aberto para propiciar o uso da internet segura para os filhos.
Importante o papel do adulto de conscientização sobre a importância do uso seguro da internet e das novas tecnologias, oportunizando as crianças e adolescentes o aprendizado consciente e responsável.
Com um bom suporte e informação vindos de casa e da escola, será possível evitar os perigos da internet para crianças e tudo ficará bem!