Nos últimos anos, poucas coisas evoluíram tanto quanto os videogames. Os antigos joguinhos simples como Pac-Man e Pong deram espaço para narrativas imersivas, gráficos deslumbrantes e jogos que desafiam a habilidade, a concentração e a inteligência.
A indústria de games deu um salto imenso nas últimas décadas, e hoje é responsável por movimentar mais dinheiro que a própria indústria do cinema e da música.
E quando se fala em games, existe uma vertente que está cada vez mais em evidência, especialmente com os jogadores mais jovens.
O universo dos e-sports trata os jogos como algo sério, como profissão.
Sim! Atualmente, bons jogadores de videogame são atletas de elite, inclusive, ganhando como tal.
Essa mudança de cenário fez surgir uma oportunidade até então inexistente para as gerações passadas: a chance de se tornar um gamer profissional.
Muitos pais estão meio perdidos com essa novidade, afinal, não conseguem captar direito a ideia de ganhar a vida jogando videogame ou fazendo carreira de Youtuber de games.
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Veja abaixo algumas informações sobre a carreira de gamer profissional e 5 dicas essenciais para orientar seu filho, caso o desejo seja trilhar este caminho. Preparado(a)?
O que você vai ver nesse artigo:
Videogame é bem mais que passatempo
Para que você compreenda melhor essa revolução no mundo dos games, é preciso entender o conceito de e-sports.
Os esportes eletrônicos nada mais são do que eventos organizados para profissionalizar as disputas entre equipes em um game.
Este universo conta com patrocínio de grandes marcas, transmissão de emissoras de TV e até apoio de profissionais como técnicos, preparadores e psicólogos.
Em resumo, o cenário de esportes eletrônicos tem força e estrutura suficiente para ser comparado às grandes ligas esportivas do basquete e futebol, que arrecadam cifras milionárias ano após ano.
Se você ainda duvida que os games que seu filho joga orbitam um universo milionário e de abrangência mundial, veja alguns dados rápidos:
- Somente os e-sports movimentaram 975 milhões de dólares em 2019;
- 495 milhões de pessoas assistiram eventos de esportes eletrônicos no ano passado;
- A equipe campeã da Copa do Mundo de League of Legends recebeu como prêmio US$2,2 milhões;
- O campeonato solo de Fortnite em 2019 distribuiu mais de 15 milhões de dólares em prêmios aos participantes.
E a tendência desse mercado é de ampliação.
Ano após ano, as grandes desenvolvedoras de games trazem novos jogos ou atualizações de games de sucesso para tornar o esporte cada vez mais atraente, tanto para gamers profissionais quanto para a audiência.
Resumindo: os games deixaram de ser meros passatempos e ganharam seriedade, inclusive, permitindo que pessoas trilhem uma carreira de atleta com tudo o que ela tem direito, ou seja, bons salários, exposição midiática, acompanhamento técnico, patrocínios e uma legião de fãs.
Se seu filho disser que pretende se tornar um e-atleta, saiba que não se trata de algo surreal, mas sim de um oportunidade factível, porém, bastante exigente.
Como é a carreira de um gamer profissional?

A carreira de um profissional de e-sports é bem parecida com a de um atleta de elite. Isso significa que é preciso treinar habilidades, cuidar do físico e realizar acompanhamento psicológico.
Se o jogo escolhido é multiplayer, o atleta precisa também desenvolver entrosamento com os companheiros, disciplina tática, respeito e todos aqueles valores que fazem parte do universo dos esportes coletivos.
Mesmo que não seja uma rotina de trabalhos físicos intensos, há a necessidade de treinar duro todos os dias (e isso precisa ficar claro para o seu filho).
Além disso, o atleta tem que lidar com uma agenda que envolve viagens, concentrações em gaming houses (que são as casas alugadas pelas equipes para que todos seus atletas tenham uma rotina de treinos, algo como um CT de futebol), conferências de mídia e compromissos com patrocinadores.
Para os atletas que ainda não estão no topo do cenário, a carreira também demanda a participação em torneios menos importantes para ganhar destaque, “peneiras” em equipes e a busca por patrocínios.
Por que o seu filho precisa ter clareza da rotina de um gamer profissional?
A carreira de gamer profissional traz desafios que podem não ser compreendidos pelas crianças e adolescentes no primeiro momento.
Estamos falando aqui da responsabilidade, do ato de transformar lazer em trabalho.
A forma de jogar muda radicalmente. Um atleta tem um técnico cobrando desempenho e um gerente de equipe, que vai tratá-lo como um profissional, ou seja, alguém que precisa dar resultado para a empresa (caso contrário, pode ser dispensado).
Surge também a necessidade de ter sempre um bom desempenho, tanto para se destacar quanto para assegurar sua vaga no time titular, e tudo isso exige horas e horas de treino.
E aqui entra algo muito importante: o e-atleta não pode “cansar” do game que joga.
Ele precisa encará-lo da mesma forma como um médico lida com a medicina ou um designer encara o Photoshop.
O jogo deixa de ser uma ferramenta de diversão para se tornar uma ferramenta de trabalho.
Isso significa jogar mesmo quando não há vontade e praticar à exaustão táticas e movimentos todos os dias.
Por fim, é preciso que o seu filho entenda que todo atleta sofre pressão, tanto da torcida quanto dos companheiros, técnicos e patrocinadores.
O desempenho de alto padrão é bem remunerado, mas exige maturidade para lidar com cobranças, situações de estresse e, claro, as derrotas.
Como ajudar/apoiar o seu filho a ser um gamer profissional?

Se você está passando pela situação de ter um candidato a e-sports dentro de casa, saiba que a primeira coisa a se fazer é não desmerecer a ideia.
Por mais que seja algo muito diferente do que você viveu, jogar videogame profissionalmente é algo possível, e com o crescimento do mercado, este sonho está mais democrático.
Portanto, mesmo que não seja algo que você goste, respeite a opção e encare-a do jeito certo: dando apoio e ajudando seu filho a compreender se é este mesmo o caminho que ele quer trilhar.
Junto com esse respeito e empatia, os pais precisam atuar dando suporte estratégico, que envolve elencar as responsabilidades (inclusive as escolares), ficar de olho no comportamento, na rotina e zelar pela saúde.
Muitas horas de jogo sem controle ou acompanhamento podem desencadear problemas como poucas horas de sono, insônia, irritabilidade, cansaço mental e falta de desempenho escolar.
Para evitar tudo isso, os pais precisam entrar em cena, impor limites e estabelecer um diálogo para criar boas regras para a rotina.
O papel dos pais de e-atletas lembra muito o papel contado nas biografias dos grandes atletas das gerações passadas, o que muda mesmo é troca da bola pelo mouse e teclado.
5 dicas especiais para pais de futuros e-atletas
Agora, veja algumas dicas rápidas para ajudar na orientação do seu filho, caso ele esteja se empenhando em ser um atleta de e-sports.
1) Ajude na organização da rotina
Seu filho quer jogar e treinar bastante?
Isso não é nenhum problema, desde que esta tarefa não sobreponha tantas outras que são muito importantes.
Os pais devem ajudar o jovem no desenvolvimento de uma agenda semanal saudável. Isso deve incluir:
- Tempo de estudo para provas e realização dos deveres de casa;
- Cumprimento de tarefas domésticas simples e que são de responsabilidade do jovem (arrumar o quarto, dar comida aos animais, etc);
- Socialização com a família;
- Socialização com os amigos (fora dos games, já que muitos jogam com seus colegas);
- Momentos para exercícios físicos;
- Respeito às refeições.
- Horários para descanso (tanto para dormir quanto para dar um tempo dos jogos).
Os pais devem criar um bom cronograma e cobrar o cumprimento dele (fazer esse papel de cobrança é, inclusive, um preparo para encarar o relacionamento com técnicos e dirigentes das equipes de e-sports).
2) Demonstre interesse na rotina
Os filhos provavelmente não vão querer seus pais atrapalhando seus momentos de jogos, porém, sempre que houver oportunidade, pergunte sobre a rotina, avalie as condições do seu filho e tente entender suas alegrias e frustrações.
Muitos games são bem interessantes e podem, inclusive, despertar o interesse dos pais.
Vale a pena entender mais sobre o game e até mesmo se arriscar em algumas partidas para descontrair e criar um laço com algo que é tão importante para seu filho.
3) Estimule-o a estudar o jogo
Um dos principais erros dos aspirantes a e-atleta é acreditar que somente a prática melhora o desempenho. É preciso estudar técnicas, analisar as partidas e ler conteúdos constantemente dentro de uma rotina de gamer profissional.
Os melhores atletas tem sessões de treinamento que envolvem somente a análise de erros cometidos em partidas anteriores, acompanhamento de jogadas dos adversários e horas de palestras técnicas com os preparadores.
Nenhum esporte do mundo envolve somente o treino prático, portanto, os pais devem estimular seus filhos a consumir informações que os deixem mais bem preparados para as partidas, tais como:
- Gravações de suas partidas anteriores;
- Análise de suas derrotas;
- Tutoriais feitos por grandes nomes do e-sports;
- Transmissão de jogos dos profissionais.
4) Converse sobre a importância da dedicação
Os pais podem acompanhar a rotina dos filhos e aproveitar um dia em que o desempenho está visivelmente abalado pela falta de interesse para dialogar sobre a importância da dedicação e do comprometimento.
Nenhuma carreira de sucesso é construída sem dedicação, e ela vai ser cobrada todos os dias das mais variadas formas.
Os pais precisam alertar os filhos sobre isso, fazer com que eles entendam que existem figuras dentro de um time de e-sports que vão cobrá-los todos os dias sem parar e que tudo isso faz parte de uma rotina de gamer profissional.
5) Prepare-se para investir
Assim como um lateral-direito precisa de uma chuteira de qualidade e um tenista de respeito necessita de uma raquete profissional, um atleta de e-sports precisa de um computador bom.
Infelizmente, os equipamentos exigidos pelo e-sports não são muito baratos, e os pais precisam ter noção disso.
O bom desempenho nos games exige um computador mais potente, um monitor de boa qualidade, uma cadeira confortável, mouses e teclados rápidos e fones de ouvido.
Se você vai mesmo apoiar a escolha do seu filho, não será possível evitar a compra dos itens listados acima, porém, você não precisa gastar tudo de uma só vez.
Dica importante: Games são uma oportunidade para descobrir o mindset de competição do seu filho
A parte psicológica influencia muito o desempenho dos atletas de qualquer modalidade. Nos games isso não é diferente. A mentalidade competitiva do seu filho precisa ser treinada, e você pode ajudá-lo.
Muitos jovens se tornam agressivos, cobram desempenho dos colegas de equipe de maneira pouco produtiva e causam muito estresse. Você deve analisar o comportamento do seu filho e ajudá-lo a desenvolver virtudes importantes como:
- Respeito aos demais jogadores (isso é, inclusive, muito exigido no cenário profissional);
- Capacidade de lidar com as derrotas;
- Resiliência perante adversidades e momentos de pressão;
- Capacidade de não se abalar por comportamentos tóxicos de outros jogadores;
- Competitividade positiva, ou seja, saber perder e ganhar e tirar lições construtivas de cada partida.
O mundo dos games é cheio de jogadores tóxicos, e seu filho deve evitar se tornar mais um deles. A ideia é fazer do jogo uma profissão, portanto, é preciso ter uma postura profissional e ética.
Aos poucos, a falta de espírito esportivo vai dando lugar à maturidade, porém, esse processo pode ser prejudicial para o jovem, caso não haja nenhum tipo de apoio. Aproveite a oportunidade de ver seu filho em momentos de competição intensa para analisar seu comportamento e ajudá-lo a se tornar um competidor mais preparado.