A tecnologia tem ganhado cada vez mais espaço na nossa vida, e muitos especialistas alertam para os riscos da exposição a esses gadgets e buscam chegar a um consenso sobre quanto tempo uma criança pode ficar no celular.
Se as novas tecnologias, por exemplo os dispositivos móveis, podem trazer alguns pontos positivos, como novas formas de aprendizado e entretenimento, também é fato que elas impuseram mudanças drásticas no dia a dia das famílias.
Afinal, adultos e crianças, que antes interagiam dentro de casa, agora se veem imersos no silêncio e na solidão das telas de dispositivos, consumindo passivamente todo o tipo de conteúdo.
Pensando nisso, neste post vamos tentar entender quanto tempo uma criança pode ficar no celular, as principais recomendações dos especialistas e também os riscos que isso pode trazer ao desenvolvimento dos pequenos. Acompanhe!
Quanto tempo uma criança pode ficar no celular?
Não há consenso.
Como se trata de uma tecnologia relativamente nova, ainda não há resultados conclusivos de pesquisas a longo prazo que comprovem os benefícios ou os malefícios do celular na vida e no desenvolvimento das crianças.
Para chegarmos a uma resposta, é preciso analisar as diferentes pesquisas que têm sido feitas e ponderar sobre as recomendações que são estabelecidas.
Em 2016, a Academia Americana de Pediatria (AAP) trouxe uma série de orientações sobre o tema, como:
- Crianças de até 18 meses não devem ser expostas a qualquer tipo de tela, exceto por videochamadas;
- Entre os 18 e 24 meses, os pais podem introduzir os gadgets à rotina dos filhos, desde que acompanhem e determinem os aplicativos e programas que eles acessam;
- Dos dois aos cinco anos, o uso deve ser limitado a uma hora por dia, sempre de conteúdos de qualidade e com acompanhamento dos pais;
- Deve-se evitar o uso de telas como smartphones, tablets e até mesmo a televisão durante as refeições e até uma hora antes de dormir.
Por sua vez, em 2019, o Royal College of Pediatrics and Child Health, do Reino Unido, afirmou que os resultados ainda são inconclusivos em relação ao efeito negativo direto dos aparelhos e sugeriu diferentes recomendações.
Para os britânicos, os pais devem responder às seguintes perguntas para decidir sobre o uso ou não de smartphones e tablets:
- O tempo de tela é controlado?
- Ele está interferindo na relação da família?
- Ele atrapalha o sono da criança?
- Os pais consegue controlar o que a criança come enquanto está em frente a uma tela?
O estudo aponta que, a partir dessas respostas, a família deve decidir sobre as melhores práticas a serem adotadas.
Mas não acaba por aí:
Também em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um guia com suas próprias diretrizes, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de ajudar a combater a obesidade infantil.
As recomendações da OMS são:
- Crianças com menos de um ano devem realizar diferentes atividades ao dia e não devem ter contato com telas digitais;
- Entre um e dois anos, as atividades diárias devem durar ao menos três horas e o uso de tela não deve superar uma hora por dia;
- A partir dos três anos, mantém-se a recomendação de três horas de atividades, além de redução do tempo em que a criança permanece sentada. O uso de telas não deve ultrapassar uma hora diária.
Por fim, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou o seu próprio manual, buscando auxiliar médicos e pais em relação às melhores práticas:
- A exposição a telas deve ser desencorajada e até mesmo proibida para menores de dois anos;
- Entre dois e cinco anos, a exposição diária não deve superar uma hora;
- Até os 10 anos, as crianças não devem ter acesso a televisores e computadores no seu próprio quarto;
- Deve-se estimular a prática de atividades físicas por, pelo menos, uma hora por dia.
Leia mais: 10 perguntas cabeludas de filhos para pais na infância: saiba como responder
4 perigos do uso excessivo do celular por crianças
1) Obesidade
Em 2018, a Associação Americana do Coração (AHA) publicou um estudo que indica a relação entre uso exagerado de aparelhos eletrônicos e obesidade.
Segundo a pesquisa, crianças e adolescentes têm passado cada vez mais tempo em frente a telas e aumentado o tempo gasto com atividades sedentárias.
De acordo com a Associação Americana de Pediatria, menos de 40% das crianças cumprem as recomendações mínimas de diárias e atividades físicas.
Saiba mais em: Obesidade Infantil: Por que os pais precisam ficar de olho?
2) Qualidade do sono
Também em 2018, a revista “The Lancet Child & Adolescent Health” trouxe um estudo que demonstrava a relação entre o excesso de tempo na frente de dispositivos móveis com uma piora na qualidade e na duração do sono de crianças e adolescentes.
Temos que lembrar que telas brilhantes são hiper estimulantes para o cérebro e, por isso, muitas entidades recomendam limitar o uso desse tipo de aparelho até duas horas antes de a criança dormir.
3) Desenvolvimento cognitivo
A mesma pesquisa demonstrou a relação entre o uso exagerado de gadgets e problemas no desempenho cognitivo das crianças.
Conforme o estudo, crianças que utilizaram aparelhos digitais por menos tempo tiveram melhor desempenho em suas atividades.
Nesse sentido, outros estudos apontam que o uso excessivo de celular pode gerar distúrbios de atenção e dificuldades de concentração em crianças e jovens.
4) Depressão
O estudo da Royal College of Pediatrics and Child Health também chegou à conclusão de que crianças que ficam expostas durante mais de duas horas diárias a dispositivos eletrônicos tendem a apresentar mais sintomas de depressão e mudanças repentinas de humor.
A relação é complexa e poderia ser explicada por fatores como padrões irreais de felicidade estabelecidos nas redes sociais, cyberbullying e até mesmo a solidão causada pelo excesso de tempo em frente às telas.
Veja também: 5 perigos da internet para crianças e como evitá-los
Fato: os pais precisam ser exemplo
O primeiro passo para definir quanto tempo uma criança pode ficar no celular é que os pais reconheçam sua parcela de culpa na fixação dos seus filhos por aparelhos eletrônicos.
Pesquisas indicam que adultos brasileiros passam até nove horas por dia em frente ao celular ou ao computador.
É importante que os pais se esforcem para dar um bom exemplo aos filhos.
Isso passa, por exemplo, por deixar o smartphone de lado durante as refeições e outras interações familiares.
Outra atitude positiva é incentivar e elogiar sempre que os pequenos realizaram atividades desconectadas, como andar de bicicleta, colorir ou brincar com os amigos.
O exemplo também passa por ter mão firme na hora de impor limites e saber dizer não. Muitos pais sucumbem às insistências dos filhos ou ao cansaço do dia a dia, mas é preciso estabelecer certas limites e certificar-se de que eles estão sendo cumpridos.
Não é preciso demonizar
Nem tudo na relação entre crianças e gadgets é negativo.
É importante que os pais entendam que é impossível criar seus filhos em uma bolha. A tecnologia faz parte das nossas atividades diárias e não pode – nem deve – ser evitada.
De fato, quando bem direcionada e controlada, a tecnologia pode trazer muitos benefícios.
Como exemplo, existem uma série de aplicativos e conteúdos que auxiliam no aprendizado das crianças, além de softwares que colaboram para um maior inclusão de alunos deficientes ou autistas, por exemplo, e apps que complementam o que foi passado em sala de aula.
O segredo está na moderação e no equilíbrio de quanto tempo uma criança pode ficar no celular, sabendo entender o potencial da tecnologia no desenvolvimento dos pequenos, bem como seus riscos e prejuízos.