Você que é pai ou mãe já deve ter percebido que dar certas broncas ou levantar a voz com as crianças nem sempre dá resultados.
Em muitos casos, esses desentendimentos não servem para nada além de gerar um mal estar dentro de casa, ou seja, não educam, não evitam novos problemas e só causam desarmonia.
Esse tipo de situação reflete algo muito profundo: a desconexão entre as necessidades das pessoas envolvidas.
De um lado, estão as crianças, que não dominam muito bem suas capacidades de expressar sentimentos.
E de outro lado estão os pais, que, muitas vezes, também não sabem como comunicar aquilo que precisam.
O cenário parece complicadíssimo, não é mesmo?
Mas saiba que existe uma teoria de comunicação que discute profundamente esses dilemas, chamada de Comunicação Não-Violenta (CNV).
Se você já ouviu falar sobre a famosa CNV, mas não faz ideia do que se trata ou como aplicá-la na sua realidade, não deixe de ler este conteúdo até o final.
Nós vamos explicar melhor o que é a comunicação não-violenta para crianças e apresentar algumas dicas para colocá-la em prática junto à sua família.
Boa leitura!
O que você vai ver nesse artigo:
O que é comunicação não-violenta?
Comunicação não-violenta – ou CNV – é mais que uma teoria comunicacional.
É um processo contínuo, estudado e elaborado para oferecer técnicas e práticas de interação que contribuem para o desenvolvimento de relações mais empáticas e respeitosas.
O responsável pela elaboração deste método é o psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg.
Marshall define a CNV como uma abordagem de comunicação pautada na empatia e na conexão mútua entre as pessoas.
O objetivo é permitir a resolução de conflitos e a construção de relações de uma forma em que todos os envolvidos entendam as necessidades uns dos outros.
Dessa maneira, evitam-se julgamentos e agressividade na hora de interagir.
Tal abordagem pode ser colocada em prática em todas as esferas sociais, desde o convívio familiar dentro de casa até dentro do ambiente de trabalho.
Os 4 pilares da comunicação não-violenta
A CNV é estruturada sobre 4 pilares indispensáveis, que servem para que uma pessoa entre em conexão tanto com as suas necessidades quanto com as dos demais envolvidos.
São eles:
1. Observação sem julgamentos
Para se comunicar bem, é preciso entender todo o contexto do cenário.
Isso significa ficar atento aos objetivos da interação e as possíveis interpretações que podem estar sendo feitas pelas pessoas.
Observar bem permite que você evite julgamentos e consiga entender melhor o segundo pilar, que são os sentimentos.
2. Exposição de sentimentos
A CNV reforça a importância de entender quais sentimentos estão presentes em uma comunicação, tanto os seus quanto os dos outros.
A ideia é que todos os sentimentos sejam colocados em cima da mesa, ou seja, expostos de forma clara e verdadeira.
Isso permite que haja menos julgamentos, críticas e interpretações erradas.
3. Identificação das necessidades
Da observação do cenário e exposição dos sentimentos surgem as necessidades.
Na CNV, os participantes de um diálogo devem reconhecer as necessidades dos outros e tentar expor suas necessidades de maneira clara.
É importante lembrar que tais necessidades devem ser levadas em consideração e não simplesmente julgadas.
4. Realização de pedidos
Por fim, é preciso trocar a ideia de ordens pelo conceito de pedidos.
Após observar, expressar sentimentos e conhecer necessidades, a comunicação deve gerar pedidos específicos que ajudam a realizar as necessidades.
Benefícios da comunicação não-violenta entre pais e filhos
A comunicação não-violenta com crianças traz excelentes melhorias para o convívio entre pais e filhos, confira uma lista:
Fortalecimento de vínculos
A CNV incentiva a conexão emocional entre pais e filhos, o que oferece um espaço seguro para expressão de sentimentos e as necessidades de cada um.
A maneira transparente e acolhedora de trocar essas informações permite que o vínculo familiar seja fortalecido, ao contrário do que ocorre quando as relações são pautadas em broncas e discussões.
Como resultado, crianças e adultos sentem-se mais confortáveis para expor suas percepções, o que aumenta a confiança e intimidade.
Resolução de conflitos
Trocar a bronca por uma boa conversa é o caminho para evitar a simples punição de atitudes.
Em vez de represálias, os pais conseguem entender melhor a natureza do comportamento da criança, o que facilita a identificação dos conflitos e como eles podem ser solucionados.
Desenvolvimento da inteligência emocional
A CNV ajuda a construir habilidades de autorregulação emocional.
Crianças e adultos conseguem identificar e lidar melhor com suas emoções, o que evita rompantes de raiva e atitudes pouco saudáveis.
Leia também: Como criar filhos emocionalmente fortes?
Aumento da empatia e compaixão
Ao colocar a comunicação não violenta em prática, as pessoas aprendem a identificar e gerar conexão com os demais, e isso é ponto-chave para exercer a empatia e ter compaixão pelos outros.
Construção e respeito com os limites
Como a CNV é pautada na transparência, fica mais fácil “desenhar as linhas” e estabelecer limites para certas atitudes.
Isso permite que haja uma relação onde tudo é bem claro, inclusive as fronteiras do respeito.
Fim do certo ou errado
A CNV não estimula que uma criança encontre culpados e inocentes.
Na verdade, ela dá conhecimento para que se compreenda atitudes certas e erradas, trocando os julgamentos pelo acolhimento e pela realização de pedidos de mudança.
Com isso, as crianças se tornam mais empáticas e focam em entender o porquê das atitudes e não na rotulação delas.
Preserva a saúde de todos, principalmente das crianças
Quando exposta constantemente ao estresse, o chamado estresse tóxico, a criança pode ter seu desenvolvimento afetado.
Essa exposição causa respostas biológicas, ou seja, a arquitetura do cérebro, por exemplo, pode ser prejudicada, causando impactos negativos em diferentes órgãos e sistemas.
Mais um motivo que torna a comunicação não-violenta ainda mais importante e eficaz.
7 dicas para praticar a comunicação não-violenta em casa
Quer saber como usar a comunicação não-violenta com as crianças?
Então confira nossas dicas!
1. Estude CNV
A primeira dica pode parecer um banho de água fria para quem deseja algo mais prático, contudo, não há como praticar algo que você não entende perfeitamente.
A CNV é um assunto complexo e que requer treino, afinal de contas, se expressar sem julgamento, ler o contexto todo da situação e entender as necessidades dos outros é algo que requer treino.
Portanto, vale a pena ler o livro “Comunicação não violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais” que foi escrito por Marshall Rosenberg.
Se você se interessa pelo assunto, vale a pena adquirir a obra, que apresenta não só as bases teóricas como exemplos práticos e situações reais vividas pelo autor.
2. Antes de falar, lembre dos pilares
Para praticar e acertar no uso da comunicação não-violenta com as crianças, segure o ímpeto de falar e comece pensando nos quatro pilares.
Imagine que você está incomodado com a quantidade de brinquedos que estão espalhados pela sala da sua casa.
Em vez de sair dando ordens para que a criança recolha a bagunça, comece a “juntar as pontas”, veja só:
Observação: Filho, toda vez que você espalha brinquedos pela sala
Sentimentos: Eu fico muito insatisfeito e até um pouco zangado e com medo de quebrar suas coisas sem querer
Necessidade: A nossa casa precisa ser organizada para que fique sempre limpa e bonita para nossa família
Pedido: Será que você pode parar a brincadeira durante 5 minutos e recolher os brinquedos que não está usando mais?
3. Ensine e incentive
Depois de dominar melhor a CNV e seus pilares, chega o momento de passar esta sabedoria adiante.
Vá, gradativamente, ajudando seus filhos a exporem suas necessidades e sentimentos dentro do método.
Mas tome cuidado para não exigir demais.
Em certos casos, não se deve esperar que a criança aplique os pilares corretamente, então, cabe aos adultos darem uma mãozinha.
Quer um exemplo: se você percebe que seu filho está irritado com alguma coisa, tente fazer uma pergunta simples, mas poderosa: o que você está sentindo com tudo isso?
4. Pare de julgar
Uma das atitudes mais importantes da comunicação não violenta com crianças é eliminar os julgamentos.
Isso significa parar de criar rótulos como “ele está bravo porque está com sono” ou “hoje ela acordou chata”.
Todo sentimento ou atitude tem uma razão, e você deve buscar entender esse motivo, não encontrar um “atalho”, que é o julgamento prévio e pouco aprofundado.
5. Valide os sentimentos
Reconheça e valide os sentimentos das crianças, mesmo que você não concorde com o motivo.
Demonstre empatia e compreensão, ajudando-as a desenvolver a consciência emocional.
6. Faça perguntas abertas
Em vez de fazer perguntas que geram respostas curtas como sim ou não, elabore perguntas que conseguem estimular a criança na hora de compartilhar seus sentimentos.
Isso ajuda no desenvolvimento da expressão e da compreensão mútua.
Por exemplo, em vez de perguntar “você ficou triste?” pergunte “como você se sentiu com tudo isso?”.
7. Colabore na busca de soluções
Incentive a criança a participar da busca por soluções quando houver um conflito.
Promova a negociação e a cooperação em vez de impor soluções.
Para isso, não deixe de fazer pedidos claros e buscar alternativas que solucionem as situações sem desrespeitar as necessidades de cada um.
Menos reações por impulso, mais ações conscientes
A comunicação não-violenta é capaz de modificar profundamente as relações, ampliar o afeto e a empatia dentro de casa e melhorar a conexão entre pais e filhos.
Por conta desses benefícios, ela é amplamente recomendada por psicoterapeutas e psicopedagogos, especialmente para auxiliar os pequenos a respeitar os demais e a si mesmos.
Como dica final, reforçamos a primeira recomendação da nossa lista:
Estude e se mantenha em contato com ensinamentos da CNV para manter seu cérebro sempre atento perante as necessidades de colocá-la em prática!
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