Sabemos que, na vida adulta, a vontade não é exatamente o principal combustível para a realização de boa parte das tarefas do cotidiano.
Quem nunca quis adiar um compromisso tedioso ou cansativo e buscou mil justificativas para isso?
No entanto, as coisas precisam ser feitas.
Para vencer as pequenas (ou grandes) hesitações do dia a dia, é importante buscarmos motivações.
Isso não é diferente para as crianças. Na verdade, é ainda mais necessário para elas.
Pode ser que o seu filho seja resistente com uma ou outra situação, como desligar o videogame no horário determinado ou recolher os copos espalhados pela casa.
Ou pode ser que você esteja vivendo tantos conflitos com ele ao ponto de se sentir girando dentro de uma máquina de lavar roupas.
Para qualquer um desses casos, ajustes na comunicação são o caminho para facilitar o entendimento.
Se você ainda não encontrou o tom certo para aumentar a motivação do seu filho para as tarefas e os desafios, saiba que há diferentes formas de fazer isso.
É preciso buscar a que funcione melhor e, principalmente, de forma mais sustentável para a sua família.
Não se preocupe com tentativas frustradas, elas fazem parte do processo.
Acompanhe nosso texto e veja como motivar seu filho a realizar tarefas, alcançar objetivos e se sentir bem com isso. Boa leitura!
O que você vai ver nesse artigo:
Como motivar seu filho: entendendo a motivação
A palavra motivação vem do latim movere, que significa mover, mudar de lugar. É o ato de impulsionar um comportamento direcionado por um objetivo.
Se precisamos realizar algo, precisamos nos mover em direção a isso, empreender esforços.
Quando conseguimos realizar o que nos propomos, sentimos a prazerosa sensação de dever cumprido.
Aparece um sentimento de sucesso, por menor que tenha sido o passo que demos.
Isso faz toda a diferença na autoestima e autoconfiança, além de alavancar outros bons sentimentos, como a vontade de continuar e alcançar mais.
É a tal da dopamina agindo.
O que a dopamina faz?
A dopamina é um neurotransmissor que desempenha papéis importantes no funcionamento do cérebro.
Ele libera “ondas” de bem-estar quando atingimos um objetivo, aumentando a motivação.
Esse elemento era especialmente útil para o ser humano pré-histórico na busca constante pela sobrevivência.
Nossos ancestrais experimentavam essa sensação quando encontravam uma nova fonte de alimento e garantiam que estariam fortes para uma nova busca no dia seguinte.
Bem, embora não andemos mais por aí literalmente caçando o nosso jantar e procurando por novas árvores com frutos no caminho, a busca continua presente no nosso cotidiano.
Quando não é assim, a falta de um senso de propósito derruba os níveis de produção de dopamina, diminuindo nossa capacidade de concentração e, claro, de motivação.
Estimulando a responsabilidade e o propósito em crianças e adolescentes
Crianças e adolescentes vivem muitos desafios no seu processo de desenvolvimento.
Quando impedimos ou não estimulamos a construção de um senso de responsabilidade e de propósito, podemos estar estancando a motivação dos nossos filhos para vencer esses desafios. Desde os mais impactantes até os mais triviais.
Quando as crianças estão acostumadas a um cenário muito facilitador, até situações simples podem ser desafiadoras, como:
- Vencer o sono e levantar da cama;
- Encerrar a sessão de jogos eletrônicos sem sofrimento;
- Cuidar da própria higiene e do ambiente.
Mas essas estão entre as coisas que apenas precisam ser feitas, como dissemos lá no início do texto.
Sem conseguir cumprir o básico, o senso de realização e a dopamina ficam comprometidos, e o desenvolvimento das habilidades que exigem foco e concentração também.
O aprendizado escolar, inclusive, pode entrar nessa conta.
Alerta de caos instalado
Esse é um terreno fértil para dores de cabeça no ambiente familiar.
Pais esgotados com os recorrentes pedidos não atendidos pelos filhos podem perder a paciência ou ceder ao caminho das “premiações” para que eles obedeçam.
Vamos mostrar agora o porquê de essas não serem as melhores saídas e quais são as alternativas que vão funcionar em longo prazo.
Para isso, é preciso entender que a motivação tem formas diferentes de se manifestar.
Motivação intrínseca X motivação extrínseca
A motivação extrínseca, em geral, é a que os pais mais costumam usar para conseguir algum comportamento dos filhos.
Consiste em uma ação externa, como o oferecimento de recompensas e elogios, ou até mesmo em forma de reprimendas por um comportamento inadequado.
Ela pode funcionar bem em um primeiro momento, mas é importante observar que o centro da ação motivadora, nesse caso, são os pais, e não as crianças ou adolescentes.
Esses vão apenas responder ao estímulo, seja ele positivo ou negativo.
Não é difícil constatar que esse tipo de motivação perde eficiência com o tempo. Todos nós diminuímos o entusiasmo ou o receio de acordo com a repetição das experiências.
As crianças e adolescentes também identificam um padrão e se acostumam com ele.
Por isso, a longo prazo, se torna insustentável alimentar esse tipo de estratégia para motivar os filhos.
Seria preciso aumentar cada vez mais a recompensa, o que não é viável e nem saudável.
Por outro lado, a motivação intrínseca coloca a satisfação pessoal como a principal recompensa pelo cumprimento de uma atividade.
A criança, nessa situação, é a protagonista da própria motivação, sendo inspirada e apoiada pelos pais.
É menos óbvio e mais trabalhoso, mas muito durável e significativo do que o cumprimento de tarefas baseado na espera por recompensas.
Essa satisfação interna e a percepção prática dos benefícios de um trabalho bem feito, ajudam os filhos a construírem um comportamento mais sólido e menos dependente de validação externa. O que, sabemos, será muito útil no “mundo real”.
As duas motivações podem coexistir e não há problemas em oferecer agrados e validar o esforço das crianças.
A questão está em conseguir evitar que isso se torne tão recorrente ao ponto de ser esperado, anulando os efeitos da motivação interna alimentada pelo dever cumprido.
6 dicas para ajudar o seu filho a encontrar motivação
1. Dê o exemplo
Há várias atitudes que você pode adotar para guiar os seus filhos em um processo de motivação. Talvez uma das mais importantes e óbvias seja o exemplo.
Pode parecer batido, mas é difícil fazer uma criança enxergar benefícios em algo sem que essa percepção possa ser dividida e espelhada.
Cobrar, é claro, também não é uma opção quando a criança ou o adolescente não encontram exemplos.
Quer dizer, você pode até tentar incentivar um comportamento que você mesmo não coloca em prática, mas esteja pronto para ser desafiado.
E, nesse caso, “porque sim” não é resposta.
2. Explique
Parece simples, mas o básico bem feito, funciona.
Sabemos que pode ser cansativo estabelecer diálogos com seu filho depois de um longo dia de trabalho, só para que ele entenda a necessidade de apagar as luzes quando deixa um cômodo ou de recolher as roupas do chão.
Mas explicar sobre os efeitos de se deixar essas tarefas para trás pode trazer resultados positivos.
3. Pergunte com interesse e ouça com paciência
Essa dica pode ser bastante desafiadora, mas se você estiver disposto a ouvir de verdade o seu filho, pode ser que encontre as respostas que precisa para motivá-lo.
Se ele não organiza o próprio quarto no momento em que você pediu, antes de perder a paciência e dizer que não pode contar com ele, pergunte sobre o que o está impedindo de cumprir a tarefa naquele momento.
Pode ser que ele prefira fazer isso em um dia ou horário diferente, pode ser que precise de ajuda para começar ou que apenas queira fazer um lanche antes.
Acredite, essa negociação pode fazer muito pela situação.
4. Permita que ele enfrente algumas consequências
Se o seu filho não organizar as suas próprias coisas, tente não correr para encontrar algo que está perdido no meio da bagunça quando ele precisa muito e com urgência.
Você também pode não substituir objetos com os quais ele não teve cuidado como foi pedido e que se perderam ou danificaram.
Esses são alguns exemplos de situações em que ele precisará lidar com as consequências da sua bagunça e que podem fazê-lo encontrar motivação para mudar o comportamento.
5. Não invalide conquistas
Você não precisa e nem deve recompensar qualquer tarefa cotidiana, para que a criança não perca a motivação interna e a satisfação como fim maior para realizá-las.
Mas nunca invalide as conquistas do seu filho.
Pelo contrário, celebre as que ele escolher dividir com você e o estimule a falar sobre as boas sensações que os objetivos alcançados provocam.
Frases como “não fez mais do que a obrigação” ou “já estava na hora” estão muito, muito longe de trazer qualquer efeito positivo.
Veja também: Como elogiar uma criança: 15 elogios que elevam a autoestima
6. Fracione as metas
Se o seu filho está enfrentando dificuldades para alcançar um objetivo ou está lutando contra a procrastinação, sugira dividir uma meta em outras menores e o ajude a com essa divisão.
Na maioria das vezes, a dificuldade da criança ou adolescente em começar algo está recheada de inseguranças e medos sobre não dar conta de algo que parece muito grande.
Micropassos podem ser ótimos para esses casos, e estimulam a sensação de vitória em cada etapa superada .
O que não funciona tão bem assim? 3 atitudes a serem evitadas
Agora que você já sabe o que pode ajudar seu filho a encontrar motivação, fique atento ao o que não vai funcionar para essa finalidade.
1. Punições
Retirar objetos ou afastar o seu filho de coisas que são queridas por ele pode resultar em obediência em um primeiro momento.
Mas isso não irá se sustentar por muito tempo e, se for necessário repetir essa estratégia toda vez, tudo o que vai conseguir é alimentar seu desânimo e aversão pelas atividades que você gostaria de incentivar.
2. Brigas e insistência
Repetir ordens insistentemente sem que isso gere qualquer resposta dos filhos tem o mesmo efeito do tópico anterior: desânimo e irritação.
Além disso, pode inflamar os ânimos em casa e gerar brigas, episódios de tristeza e exaustão para as crianças e para os pais.
3. Subornos e chantagens
Oferecer sempre algo material ou alguma vantagem em troca da realização de tarefas, como já vimos, é insustentável em longo prazo e esvazia qualquer senso de realização nas crianças.
Por qual motivo, afinal, alguém faria algo por pura satisfação pessoal se souber que pode esperar uma recompensa externa por isso?
Chantagens emocionais que confundem e culpam crianças pelo sentimento dos pais também vão formar memórias que você certamente não deseja.
Evite esse caminho.
Escute seu filho para motivá-lo!
Se você tem filhos, é provável que já tenha derrapado em muitas tentativas de conversas motivadoras com eles e que já tenha acertado muitas vezes também.
Fiquei tranquilo, tudo faz parte de um processo maior e de construção diária.
Conta pra gente se você já seguia alguma dessas dicas e o que tem funcionado na sua casa.