Imagine o seguinte cenário:
Cinco bonequinhos em uma mesma sala, cada um de uma cor, em volta de um painel de controle.
Cada um deles representa um sentimento.
A sala, na verdade, representa um cérebro, e o painel de controle é acionado por cada uma das emoções.
Parece conversa de louco, mas é a premissa do filme Divertidamente. animação da Disney que aborda o tema da inteligência emocional de forma simples e didática.
Tal como ocorre na vida real, as personagens que simbolizam as emoções brigam entre si e discutem, mas funcionam melhor quando são compreendidas e trabalham juntas.
Dúvidas sobre como falar sobre emoções com o seu filho?
Esse é um ótimo jeito de começar!
O que você vai ver nesse artigo:
Por que é importante conversar sobre emoções?
Lidar com as emoções pode ser algo nebuloso até mesmo para nós, adultos, que já dominam a linguagem e que passaram por várias experiências durante a vida.
Para as crianças, que ainda não sabem direito quem são e nem como identificar o que estão sentindo, essa pode ser uma jornada ainda mais confusa.
Conversar sobre os sentimentos é fundamental para o desenvolvimento social da criança.
É uma maneira de fazer com que a criança se conheça mais e, assim, possa controlar as próprias reações ao que acontece com ela.
Além de ajudar a entender e a identificar as próprias emoções, o autocontrole faz diferença no convívio social.
Cientes do que ocorre dentro da própria cabecinha, fica mais fácil para os pequenos entenderem que, em cada pessoa, existe um universo particular.
A criança estará mais preparada para entender o que passa dentro deles e, por consequência, o que passa dentro da cabeça dos colegas.
Isso ajudará na tomada de decisões, na construção de novos relacionamentos e na resolução de conflitos.
Não espere, porém, que uma única conversa elucide o assunto.
É um tema complexo. Não é à toa que algumas pessoas passam anos fazendo psicoterapia, não é mesmo?
A partir de que idade é possível tocar no assunto?
Não existe um momento certo ou uma idade exata.
O desenvolvimento socioemocional das crianças ocorre o tempo todo.
A maneira como o adulto responsável pelo bebê – seja a mãe, o pai, os avós ou qualquer outra pessoa – acolhe cada uma das ações da criança fará diferença na construção do socioemocional do pequeno.
Ou seja: essa atenção às emoções deve começar desde o nascimento do seu filho.
Quais são as emoções mais comuns nas crianças?
No filme Divertidamente, as emoções que a personagem Riley, protagonista do filme, são cinco.
Alegria, desprezo/asco, ira, medo e tristeza.
São, também, os sentimentos mais comuns nas crianças.
Tristeza
O sentimento é de dor e está frequentemente associado ao choro. Um brinquedo quebrado ou um bicho de estimação machucado podem deixar a criança triste. Ou seja, pode ser consequência de uma perda real ou imaginária.
Ira
Causada pela frustração – aquilo que sentimos quando não conseguimos o que queremos -, mas acrescida de raiva. É importante que o pequeno (a) aprenda a controlar a ira. Caso não o faça, isso pode trazer complicações comportamentais no futuro.
Desprezo/asco
Sabe aquele nojinho que você sente quando vê uma barata? É esse o sentimento da criança, frequentemente direcionado a alguns alimentos. É difícil contornar o asco e, às vezes, só some quando a criança amadurece e chega à fase adulta.
Alegria
Esse todo mundo conhece (e almeja), não é? Crianças podem ficar tão alegres que ficam até eufóricas.
Pode ser decorrente de algum acontecimento bom ou somente pela visão de uma pessoa. E não tem som melhor que o som de uma criança rindo, feliz, não é?
Medo
O medo é a insegurança diante do desconhecido, ou de perigos imaginários ou reais. O medo, quando não é excessivo, gera um comportamento cauteloso.
Isso evita que a criança se envolva em problemas ou se machuque. Fique atento, porém, se o medo da criança estiver exagerado.
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Como falar sobre emoções com os seus filhos?
A melhor maneira é a mais natural.
Não é preciso escolher um momento do dia ou da semana para entrar nesse assunto.
Procure mencionar isso no dia a dia, conforme for deparando com as situações.
Quando a criança tiver um acesso de raiva ou de choro, você pode tentar explicar a ela o que está causando aquilo.
Outra maneira bem comum é explicar os próprios sentimentos ao pequeno:
“Filho, estou triste hoje. Vamos brincar mais tarde.”
Lembre-se, claro, de que a criança não tem a mesma capacidade que você tem.
Não adianta explodir com o pequeno ou descontar nele as frustrações do trabalho.
Ele não vai ter capacidade de entender que isso é uma reação causada por algo externo e, provavelmente, vai se sentir acuado.
Antes de responder de maneira ríspida, respire fundo.
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Quais abordagens os pais devem evitar?
Evite classificar uma emoção como “boa” ou “ruim”.
Todos os sentimentos são importantes e, desde que manejados, fazem diferença para o desenvolvimento socioemocional.
Suprimir a raiva, por exemplo, pode fazer com que a criança se torne um adulto reprimido ou passivo, que aguenta situações negativas sem conseguir reagir para se proteger.
Lembre-se de que o que pode vir a ser negativo é a maneira como agimos diante de uma situação que causa uma emoção forte.
Também evite a estratégia reserva – a de sugerir que, quando a criança fique braba, ela dê um abraço ou faça um carinho na pessoa que a irritou.
Isso acaba confundindo a criança.
No caso da raiva, explique que a criança não deve bater em ninguém.
Em vez disso, pode se afastar, gritar longe dos outros ou amassar uma folha de papel.
São ações que “soltam” a raiva sem causar dano a ninguém.
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5 formas de explicar as emoções para o seu filho
1) Diário
Pode parecer antiquado, mas os diários têm uma vantagem: podem ser escondidos e mantidos em segredo.
As crianças podem se sentir um pouco envergonhadas ou até confusas ao tentar expressar o que sentem.
Se conseguirem colocar no papel, podem ir se familiarizando melhor com a sensação.
Assim, aos poucos, sentem-se à vontade para compartilhar com os pais ou irmãos o que estão sentindo.
2) Leitura
Para vasculhar o universo das emoções, uma boa pedida é a leitura.
Quem lê frequenta outros mundos sem sair de casa.
A criança pode se identificar com algum personagem e pode se colocar no lugar dele para compreender melhor o funcionamento de outras pessoas.
Isso faz com que elas aprendam também sobre si mesmo e desenvolvam empatia.
3) Música
As crianças conseguem entender as músicas.
Se não entendem exatamente as palavras, conseguem absorver as sensações causadas pelas melodias.
Ou seja, é possível que ouçam uma canção triste e fiquem tristes.
O mesmo ocorre com canções animadas.
Isso ocorre porque a música libera a função emocional e a energia reprimida.
Ao apresentar estilos musicais diferentes ao pequeno, você pode pedir que ele diga o que sentiu depois de ouvir cada um.
4) Estar presente
Para compreender o que os pequenos estão sentindo e guiá-los na compreensão das emoções, é preciso perceber o que está acontecendo na vida deles.
Por isso, estar presente – e, por isso, queremos dizer realmente presente, realmente prestando atenção na criança e no que ela demonstra.
Ou seja – estar ao lado da criança, brincando, mas pensando em problemas do trabalho não é suficiente.
Com um olhar atento, você pode ajudar a identificar as emoções, nomeá-las e, por fim, trabalhar a maneira como o pequeno reage ao sentir cada uma delas.
5) Jogos
Você pode mostrar imagens de personagens de livros, filmes ou seriados, cada um com expressão diferente.
Pergunte à criança o que ela acha que a personagem está sentindo.
Conversem sobre isso e tentem imaginar o que causou esse sentimento e como a personagem deveria reagir.
Outro joguinho que pode ajudar o pequeno a traduzir tema tão complexo é uma espécie de teatro de emoções.
Em cartas, escreva o nome de diferentes sentimentos.
Com o auxílio de marionetes ou de bonecos, invente uma história e use aquelas emoções.
Por exemplo:
“Pedrinho saiu de casa feliz porque ia jogar futebol.
Ao sair, Pedrinho pisou em um bicho, e sentiu nojo do barulho que escutou.
Também viu um cachorrinho abandonado, e se sentiu triste, porque não achava certo que animais não tivessem uma casa.
Ele chegou mais cedo na quadra de futebol, e isso o deixou emburrado, porque estava ansioso para jogar.
Por fim, deu tudo certo, e Pedrinho ficou satisfeito porque conseguiu fazer um gol.”
São pequenas histórias com as quais seu pequeno (a) conseguirá rapidamente se relacionar.
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Entender as emoções é um processo
Até nós, adultos, muitas vezes nos deparamos com sentimentos que demoramos para entender o que são, não é mesmo?
Por isso, mais uma vez, nossa dica segue a mesma linha: paciência.
A criança está apenas começando a entender que pode se sentir incomodada, com raiva, alegre ou frustrada.
Não espere que ela saiba lidar com isso imediatamente – nem mesmo adultos o fazem.
Caso esteja com dificuldades ou perceba que os sentimentos da criança estão exagerados, como tristeza que não passa ou raiva descontrolada, procure auxílio de um psicólogo, de um educador ou de um médico.