Como ensinar empatia aos filhos é possível e começa pelo exemplo.
Pequenos gestos, demonstração de sentimentos, diálogo e exposição às diferenças são alguns caminhos que podem ajudar os pais e responsáveis a orientar seus pequenos.
Mas por que essa palavrinha, a empatia, vem sendo tão comentada entre especialistas?
Simplesmente porque o ato de ensinar as crianças a se colocar no lugar do outro é imprescindível para estabelecer relações, para amar e para o sucesso profissional.
E mais:
Por meio desse processo temos mais chances de conviver em um mundo mais gentil e sensível, características que fazem falta na cultura da raiva e da violência.
Não sabe por onde começar? Veja 5 dicas de como ensinar empatia aos filhos e aproveite para refletir sobre os exemplos que você vem dando.
Por que ensinar empatia aos filhos?
Mais do que se colocar no lugar do outro, a empatia está no cerne do que significa ser humano. Conforme o psicólogo e pesquisador de Harvard, Daniel Goleman, não é apenas “andar com um sapato que não é o seu”, mas se importar com o outro e estar pronto para ajudar.
A boa notícia é que, segundo a neurociência, os circuitos cerebrais para fortalecer a empatia são desenvolvidos na infância e na adolescência.
Repare um bebê em fase de crescimento:
- Aos 6 meses ele já sorri de volta para quem é gentil;
- Aos 2 anos ergue os braços para ajudar quem o está vestindo;
- Aos 4, já corre para mostrar que algum artigo caiu do seu bolso.
Esses pequenos gestos mostram que, sim, eles se importam com o outro e podem receber influências desde muito cedo sobre o que é certo.
Mas não é só isso.
No livro Unselfie, Why Emphatetic Kids Succeed in Our All-About-Me World (Unselfie, Por Que Crianças Empáticas se Dão Bem em um Mundo Egocêntrico, em tradução livre), a reconhecida pedagoga Michele Borba reúne pesquisas que mostram que as crianças mais empáticas sentem benefícios na saúde e, claro, na convivência social.
Na obra a autora é enfática: não há outra maneira de como ensinar empatia aos filhos senão da mesma forma que você o ensinou a falar, andar e escovar os dentes.
Ou seja, tudo é treino.
Como ensinar empatia aos filhos?
1) Demonstre empatia no dia a dia
O exemplo dentro e fora de casa é o maior aliado quando o assunto é ensinar empatia aos pequenos. Por isso, demonstre sempre se importar com o outro.
Em conversas com amigos, pergunte como estão os filhos e a família. Isso ajuda seu filho a entender que o mundo não gira em torno dele.
Crianças aprendem muito pela observação e pelo exemplo dado por adultos. Seja empático, demonstre preocupação com o sentimento dos outros e com as consequências das suas atitudes.
O exemplo também pode começar com atitudes simples. Durante as refeições em família, pergunte como foi o dia do seu filho, o que ele aprendeu e como esse aprendizado pode ajudar as pessoas na prática.
Outra ação que pode ensinar os pequenos a serem mais empáticos é incentivar que cuidem de uma planta. Segundo a Monja Coen, uma das maiores propagadoras do budismo zen no Brasil, essa é uma boa oportunidade de entender as necessidades do outro.
2) Encoraje a empatia com os colegas
Explique a importância de as crianças se colocarem no lugar do outro quando um colega estiver encarando algum conflito.
Reforce, também, as consequências do bullying, uma agressão que considera apenas os desejos de quem pratica e não conta as necessidades de quem atinge.
Portanto, sempre levante a questão: “Como eu me sentiria se fosse comigo?”.
A criança que é colocada de frente com esse questionamento dificilmente vai causar sofrimento em outra pessoa.
Aproveite e leia: Amizade na infância: o que os pais precisam saber sobre o assunto
3) Exponha seu filho às diferenças
Há inúmeras maneiras de apresentar diferenças culturais para um criança. Livros, programas de TV e filmes são apenas um começo. Mas você também pode ir além.
Visitar feirinhas gastronômicas de outras regiões e levar seus pequenos a museus e centros culturais são excelentes maneiras de mostrar que, sim, o mundo é grande e que as pessoas têm hábitos e costumes diferentes.
Os pais também pode incentivar que as escolas ajudem na conscientização cultural por meio de projetos especiais na grade curricular.
Não precisamos dizer que piadas sobre raça e cultura devem ser fatores inexistentes dentro de casa, não é mesmo?
4) Ajude-o a lidar com os sentimentos
Ajudar a criança a lidar com os sentimentos que surgem ao longo da infância é fundamental para que ela se torne um adulto mais sensível. Ravi Rao, neurocirurgião pediátrico, afirma que ensinar emoções é tão importante quanto ensinar números ou cores.
Para concretizar isso, não há muito mistério. Explique para o seu filho sentimentos como frustração, raiva, tristeza e inveja. Depois incentive que ele lembre em que momentos já sentiu essas emoções e também demonstre quando isso acontecer novamente.
Ao manifestar essa sensação e se sentir acolhida, a criança aprende a enfrentar os seus problemas e, automaticamente, estará mais propensa a entender o outro quando estiver passando pela mesma situação.
É consenso entre os especialistas: as crianças precisam aprender a entender seus próprios sentimentos antes de identificar e demonstrar empatia pelos sentimentos dos outros.
Dica Extra: a animação Divertida Mente (Pixar) é uma ótima maneira de introduzir os seus filhos no mundo das emoções. No roteiro a personagem Riley, de apenas 11 anos, precisa lidar com muitas mudanças em sua vida e, por consequência, com as emoções que surgem em razão dessas inconstâncias.
Alegria, tristeza, raiva e nojo são apenas uma amostra dos sentimentos abordados de forma sensível e, melhor ainda, didática para os pequenos.
5) Encontre a empatia em pessoas/personagens que ele admira
Assistir TV, filmes e ler livros juntos é uma ótima oportunidade para cultivar a empatia entre as crianças. O exercício fica ainda melhor quando você conversa sobre as histórias e pontua onde os personagens foram generosos e se preocuparam com o sentimento dos outros.
Também é importante exemplificar atitudes egoístas e explicar em que momento o personagem poderia ter agido de forma diferente.
Acesse também: Ler para os filhos: 9 benefícios de adotar essa prática
Um exemplo de personagem empático é a Dory, de Procurando Nemo. Mesmo sem conhecer o pai de Nemo, ela se solidariza com sua angústia e o ajuda a encontrar o peixinho aventureiro.
Lembre-se: ao entrar em contato com o mundo imaginário da literatura ou do cinema, as crianças podem viver diferentes experiências e aprender com isso.
Paciência, treino e exemplo
Saber como ensinar empatia aos filhos não é uma tarefa difícil. Basta introduzir esses pequenos hábitos e lembrar que o diálogo é a melhor ferramenta para fazer as crianças se conectarem e serem generosas com o outro.
Segundo Daniel Goleman, o pesquisador de Harvard e autor do livro Inteligência Emocional já citado neste artigo, expor crianças a conteúdos que reforçam a importância da empatia, surte, sim, efeitos. E mais: torna elas mais gentis, preocupadas com o coletivo e forma agentes de mudança no futuro.
Mário Sérgio Cortella complementa: “O mundo que vamos deixar para os nossos filhos depende dos filhos que vamos deixar para o nosso mundo.”Por isso, não esqueça: treino, paciência e exemplo são os caminhos.