Os números relacionados à ansiedade infantil estão ficando cada vez mais preocupantes.
De acordo com pesquisas, entre 2016 e 2020 foi registrado um aumento expressivo no número de crianças que apresentaram sintomas de ansiedade e depressão.
Esse quadro se intensificou ainda mais durante a pandemia de covid-19, período no qual foi registrado um aumento de 21% nos casos de alteração de comportamento e conduta dos pequenos.
Esses dados demonstram que é hora de deixar para trás aquela crença de que a ansiedade é “coisa de adulto”.
Pais e mães devem ficar atentos aos comportamentos de seus filhos para identificar possíveis sintomas e manifestações de ansiedade.
Afinal, a falta de tratamento adequado na infância pode gerar consequências negativas na vida adulta.
Contudo, se você não sabe quais são os principais sinais da ansiedade infantil, como identificá-la e como ajudar o seu filho, fique tranquilo.
Neste artigo explicamos sobre esse transtorno psiquiátrico, quais motivos podem ocasioná-lo e qual é o momento certo para buscar ajuda especializada.
O que você vai ver nesse artigo:
Ansiedade infantil: o que é e como identificar?
A ansiedade infantil é um estado emocional caracterizado por preocupações excessivas, medos, insegurança e problemas com a autoestima que interferem no bem-estar da criança.
Ela se manifesta por meio de sinais distintos, que nem sempre são fáceis de serem identificados.
Contudo, alguns dos mais comuns envolvem:
- Mudanças repentinas de comportamento;
- Irritabilidade;
- Insônia;
- Medo;
- Queixa de incômodos físicos.
A identificação também envolve a percepção sobre os comportamentos e hábitos fora de casa.
A recusa para participar de atividades sociais e escolares também é um sinal que deve ser observado pelos pais.
Entretanto, é preciso ter cautela para não confundir uma ansiedade natural com uma manifestação patológica.
Sim, é normal que crianças tenham momentos ansiosos e nem toda ansiedade é nociva e crescente.
Quer um exemplo?
Entre 6 meses e 3 anos é bem comum que os pequenos apresentem a famosa “ansiedade de separação”.
Ela geralmente ocorre nos primeiros contatos com a escola (justamente quando os pais estão longe).
Nesse momento, é comum a criança se apegar a um objeto transicional (aquele que ela não larga)- como um ursinho de pelúcia, uma mantinha – para suportar a angústia da separação.
Esse é um tipo de ansiedade intrínseca do nosso desenvolvimento e que costuma se extinguir naturalmente sem necessidade de grandes intervenções.
Lembre-se que a ansiedade é algo que faz parte da vida de todo mundo e é até saudável.
Afinal, estamos falando de uma emoção que também se manifesta em momentos bons também, como na véspera de uma viagem ou de uma festa de aniversário.
Além desse detalhe, não podemos esquecer que a ansiedade é como um “termômetro do perigo” que funciona em nosso cérebro.
Muitas vezes, ficar ansioso diante de uma situação ameaçadora é algo que nos protege do risco.
Resumindo: ansiedade infantil (ou adulta) é algo corriqueiro, que só se torna um problema quando ocorre de forma desproporcional ou muito constante, a ponto de criar um impactos funcionais para a rotina.
O que causa transtorno de ansiedade em crianças?
A ansiedade infantil tem diversas causas, que envolvem uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicossociais:
Fatores genéticos
Predisposição genética aumenta a suscetibilidade ao transtorno de ansiedade.
Ambiente familiar
Experiências familiares, como instabilidade, conflitos, negligência ou superproteção, podem influenciar o desenvolvimento do problema.
Eventos traumáticos
Traumas, como a perda de entes queridos, divórcios, mudanças abruptas ou eventos violentos, são fatores ligados ao desenvolvimento da ansiedade em crianças.
Disfunções cerebrais
Alterações no funcionamento do cérebro, como desequilíbrios nos neurotransmissores, também estão atrelados ao quadro.
Temperamento da criança
Algumas crianças têm uma predisposição natural para reagir mais intensamente ao estresse, tornando-as mais propensas à ansiedade.
Pressões escolares e sociais
Expectativas escolares e sociais podem gerar pressões excessivas, contribuindo para a ansiedade infantil.
Como a comparação com o colega na escola, por exemplo, ou a tentativa frustrada de fazer parte de um grupo.
Condições preexistentes
Crianças diagnosticadas com hiperatividade, déficit de atenção e transtornos do espectro autista têm mais predisposição à ansiedade.
8 sinais para você ficar em alerta
Vale reforçar que existe uma diferença entre a ansiedade patológica e a ansiedade normal.
Todo mundo tem seus momentos mais ansiosos, e sente o que chamamos de ansiedade “normal”.
O problema acontece quando os sintomas causados pela ansiedade passam a atrapalhar a rotina da criança, passando de normal para uma ansiedade patológica.
Isso pode ser notado por meio de alguns “sinais clássicos”.
São eles:
1. Recusa à escola
Esse comportamento, conhecido como “recusa escolar” ou “ansiedade escolar”, pode ser desencadeado por diversos fatores relacionados à ansiedade.
Crianças ansiosas costumam temer situações sociais no ambiente da escola, sentir-se incapazes de lidar com as expectativas acadêmicas, ou experimentar medo de separação dos pais.
Se essa recusa persistir e interferir no funcionamento diário da criança, é aconselhável procurar orientação profissional e conversar com a escola para avaliar a situação.
É importante entender quais situações escolares estão gerando esse desconforto no seu filho.
2. Dificuldade de separação dos pais
O medo de separação é um componente comum da infância e, em alguns casos, pode manifestar-se como um sintoma de ansiedade infantil.
Este medo excessivo pode deixar os pequenos mais irritados, chorosos e carentes.
A gente sabe como as crianças precisam do acolhimento e recorrem aos adultos, contudo, quando elas não desgrudam dos pais, é algo que merece atenção.
3. Dificuldades para dormir
O surgimento de distúrbios do sono – como insônia – e a recorrência de pesadelos também são apontados pela comunidade médica como um sinal clássico da ansiedade infantil.
Entretanto, o sono pode ser alterado não apenas pela ansiedade.
Hábitos como usar o celular antes de dormir ou ingerir muito açúcar durante a noite também podem deixar as crianças mais elétricas e com dificuldade para descansar.
Analise a rotina do seu filho para entender se esse é um sinal de ansiedade ou só um hábito, que mudado pode resolver.
Saiba mais: Hora de Criança Dormir: 11 dicas para uma boa noite de sono
4. Queixas de sintomas físicos
Crianças se machucam com uma certa facilidade, concorda?
Contudo, quando elas se queixam de sintomas físicos e não há nenhuma ocorrência, isso pode ser um sinal de ansiedade.
Mas antes de “cravar” que isso é ansiedade infantil, vale consultar um médico e realizar alguns exames para buscar a origem do desconforto.
Caso nada seja identificado, isso é um sinal que os sintomas podem ser de ordem psicológica.
5. Nervosismo e irritabilidade
É comum que as crianças se irritem ou fiquem nervosas em algumas situações, seja na hora de brincar com os colegas ou no momento de largar o brinquedo para tomar banho.
Isso é normal e faz parte do desenvolvimento comportamental, afinal, os pequenos ainda estão aprendendo a domar suas emoções e sentimentos.
Agora, se esse tipo de comportamento é constante e engatilhado por situações simples, isso pode ser um sinal de que a ansiedade está atrapalhando a rotina.
6. Baixa autoestima
A baixa autoestima também pode ser um sinal que a criança tem ansiedade infantil.
Crianças ansiosas costumam desenvolver uma visão negativa de si mesmas devido a preocupações excessivas, pressões sociais, medos ou experiências traumáticas.
7. Queda no desempenho escolar
A queda na participação ou nas notas escolares pode ser um desdobramento da ansiedade patológica.
A dificuldade de concentração, socialização e a sensação de angústia criada por momentos de avaliação podem gerar picos de ansiedade que dificultam o aprendizado.
8. Alteração no apetite
A ansiedade pode afetar o apetite das crianças de várias maneiras, levando a mudanças tanto na ingestão de alimentos quanto nos padrões alimentares.
Ou seja, a criança pode ter tanto uma queda repentina quanto um aumento inexplicável no apetite.
Esse quadro pode desencadear outros problemas de saúde, como compulsão alimentar, sobrepeso, problemas gastrointestinais e desnutrição.
Como identificar uma crise de ansiedade infantil?
Quando uma criança está enfrentando uma crise de ansiedade, é comum notar reações físicas intensas, como choro sem controle, tremores, sudorese excessiva e respiração acelerada.
O comportamento também se altera bastante, sendo possível notas movimentos repetitivos, inquietação e muita agitação.
Além disso, a criança pode demonstrar:
- Resistência para participar de atividades físicas, sociais ou escolares que normalmente seriam toleráveis;
- Dificuldades na comunicação;
- Sinais de confusão e frustração;
- Problemas gastrointestinais, como desconforto abdominal, náuseas ou vômitos.
Quando procurar por ajuda profissional?
A orientação profissional é apropriada quando os sintomas persistem, tornam-se intensos ou começam a impactar significativamente a vida da criança.
Ou seja, se o seu filho apresenta alguns dos sinais listados neste artigo e a manifestação desses comportamentos se tornou constante, é importante buscar ajuda.
Você pode buscar ajuda de um pediatra e também de um psicólogo infantil para entender a origem do problema.
Além da pediatria e da psicologia, também é possível buscar ajuda psiquiátrica.
Neste caso, o médico pode prescrever medicamentos adequados para redução de sintomas.
6 maneiras de ajudar o seu filho com ansiedade
1. Observe o comportamento sem fazer julgamentos
Fique atento ao comportamento do seu filho para buscar os sinais da ansiedade, porém, ao identificá-los evite criar um julgamento.
Ou seja, nada de chamar de birra, coisa de criança mimada ou algo do tipo.
Tentar diminuir o que a criança está sentindo só vai fazer com que ela se torne mais introspectiva quanto aos seus sentimentos.
2. Acolha e busque o diálogo
Ao notar manifestações típicas de ansiedade, acolha e tente acalmar.
Em seguida, aproveite o momento de carinho e proximidade para conversar.
Ao ser acolhida, a criança pode se abrir e dizer o que está sentindo, e isso tende a ajudar tanto no diagnóstico da ansiedade quanto na identificação dos sinais mais intensos.
3. Mude o foco do problema
Seu filho vai fazer uma prova na escola e você está vendo que ele só fala disso na hora do café da manhã?
Você pode tentar mudar o foco e desviar o assunto para que ele deixe de pensar nessa atividade e relaxe um pouco.
4. Fique de olho no ambiente da sua casa
As atitudes e comportamentos dos adultos geram impactos e podem ampliar a ansiedade infantil.
Por isso, reflita sobre o ambiente da sua casa.
Lembre-se que os pais são exemplos para os filhos e eles sentem o impacto das atitudes dos adultos o tempo todo.
Viver em um ambiente saudável contribui para uma infância saudável.
5. Reflita sobre a sua ansiedade
Se você é extremamente ansioso(a) e não cuida de si, como esperar que seu filho não normalize atitudes típicas da ansiedade?
Nunca se esqueça que os pais são exemplos para os filhos, ainda mais quando eles são muito pequenos e estão aprendendo a socializar.
Portanto, se você sofre com ansiedade, cuide-se para diminuir os reflexos do seu problema dentro da sua casa e também para estar bem e oferecer o suporte que seu filho precisa.
6. Incentive a criança a praticar atividades relaxantes
Fica a dica: use seu tempo em família para promover momentos de descontração e relaxamento!
Atividades como meditação, relaxamento ou um passeio pela natureza são ótimas maneiras de reduzir a ansiedade momentaneamente.
Já os exercícios de respiração ajudam muito na hora das crises e momentos mais intensos.
A ansiedade infantil pode ser diagnosticada e controlada!
Como você pôde ver, a ansiedade infantil é algo que necessita da atenção dos pais e vai exigir um bocado de conhecimento para saber como agir nos momentos de crise.
Nós esperamos que este conteúdo tenha lhe ajudado a entender um pouco mais sobre o assunto e como agir nos momentos mais complicados.
Como dica final, deixamos uma reflexão: não tente diagnosticar seu filho sozinho e tampouco ignore sinais de ansiedade.
Fique atento aos comportamentos e busque ajuda sempre que possível, mesmo que seja para tirar algumas dúvidas.
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